O Dia da Consciência Negra, realizado em 20 de novembro, não apenas marca um feriado em algumas regiões do Brasil, mas também representa uma ocasião fundamental para refletir sobre a luta histórica pela igualdade racial e prestar homenagem à rica cultura ancestral do povo de origem.
Embora não seja um feriado nacional, alguns estados, como Rio de Janeiro, Mato Grosso, Alagoas, Amazonas, Amapá e Rio Grande do Sul, reconhecem a relevância da data e a consagram como feriado.
A origem do Dia da Consciência Negra remonta à década de 1970, quando movimentos sociais, incluindo o Movimento Negro Unido, emergiram no Brasil para combater as profundas desigualdades raciais. Nesse contexto, o Grupo Palmares, fundado em 1971 pelas universidades negras de Porto Alegre, teve um papel crucial.
O grupo tinha como objetivo refletir sobre a situação dos negros no Brasil e, em seu primeiro encontro, concebeu a ideia de criar um dia para celebrar a importância da cultura negra.
A escolha do dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares em 1695, líder do Quilombo de Palmares, não é apenas simbólica, mas representa a resistência histórica contra a escravidão.
A consciência negra vai além de uma mera celebração cultural. Ela representa a conscientização sobre a importância da cultura negra, a compreensão da luta diária enfrentada pelas pessoas pretas e o reconhecimento do valor intrínseco de ser preto em uma sociedade marcada por desigualdades raciais profundas.
Iniciativas legislativas, como a Lei nº 10.639 durante o governo Lula, que determinou a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo escolar, demonstram esforços para promover a igualdade racial e integrar o ensino de uma perspectiva mais inclusiva.
O conceito de negritude, criado pelo poeta e escritor martinicano Aimé Césaire, destaca a essência cultural presente em todos os descendentes de africanos que sofreram uma diáspora forçada. Enquanto isso, a consciência negra busca unificar a população em torno de sua luta, não apenas pela valorização cultural, mas também pelo reconhecimento da intensa batalha enfrentada diariamente.
No cenário atual, é crucial destacar as iniciativas tomadas por governos, como no Piauí, que se tornam especialmente relevantes ao ser considerado o terceiro Estado mais negro do Nordeste.
O comprometimento do governo estadual em implementar medidas, através da Secretaria de Educação e da Superintendência de Igualdade Social, demonstra um esforço para corrigir as desigualdades sociais e transformar a realidade da juventude negra.
“E é importante ressaltar as iniciativas que têm sido tomadas. Eu acredito que são iniciativas fundamentais para a gente promover o mínimo de equidade social em relação a nossas populações. O Piauí é o terceiro Estado mais negro do Nordeste e o governo do Estado está implementando uma série de medidas via Secretaria de Educação, via Superintendência de Igualdade Social e via vários outros espaços administrativos a nível de Estado. Tive hoje uma reunião com a superintendência da Secretaria Estadual de Educação, para tratar exatamente sobre essas políticas e acredito que as políticas que têm um potencial gigantesco de transformar a realidade da juventude do nosso Estado e transformar a realidade do nosso Estado como um todo” Afirmou Hector Belém Martins, Diretor de combate ao racismo na União nacional dos Estudantes.
A pandemia de COVID-19, além de seus impactos sanitários, destacou as desigualdades sociais preexistentes, com as populações negras sendo as mais afetadas. Isso evidencia a urgência de manter um debate constante sobre o racismo estrutural, que persiste mesmo além das Mães da Consciência Negra.
A citação de Paulo Freire, “Os negros no Brasil nascem proibidos de serem inteligentes”, ressalta a necessidade de enfrentar os estigmas e preconceitos arraigados na sociedade.
“Tivemos uma pandemia no mundo. E aqui no Brasil vivemos isso através de um governo que não valoriza a vida. E quem mais morreu durante esta pandemia foram as populações que estavam em vulnerabilidade social, que estavam à mercê da sua própria natureza, sem acesso à saúde, à educação, sem acesso à cura básica, e às questões básicas de saúde, porque as políticas de a saúde pública foram totalmente destruídas pelo próprio governo federal. Então, quem morreu mais durante a pandemia de COVID de COVID? Eram as populações negras da periferia”. Ressalta Hector.
Nesse sentido, é fundamental ir além de novembro e garantir que o debate sobre a consciência negra seja uma prática contínua, ocupando espaços de poder, transformando estruturas e promovendo ações concretas que desafiem e reformem as estruturas racistas enraizadas na sociedade brasileira.
“Precisamos ter certeza de que esse debate seja construído para além destas datas, para além deste momento, não apenas no dia 20 de novembro, e como construir isso de outras formas, utilizando as estruturas, ocupando os espaços de poder, e também os espaços de comunicação em nosso país”. Finaliza Hector.
Palacio do Karnak homenageia Francisca Trindade com exposição “Trindade vive” e marca Dia da Consciência Negra no Piauí.
Ainda nesta manhã (20 de novembro), foi inaugurada a exposição “Trindade Vive” no Palácio de Karnak em celebração ao Dia da Consciência Negra. A exposição, aberta ao público até 24 de novembro, homenageia Francisca Trindade, a parlamentar mais votada na história do Piauí em 2002, destacando sua trajetória de luta e resistência.
Com a curadoria da fotógrafa Margareth Leite, a mostra apresenta cem fotos digitais que retratam diversas facetas de Trindade, desde sua atuação política até seu envolvimento em movimentos sociais, cultura e igreja.
Margareth destaca a importância de compartilhar a história de Trindade para inspirar jovens, ressaltando sua inteligência e impacto na política e cultura piauiense. A exposição não é apenas homenageada, mas também destaca o legado e a contribuição de Trindade para a sociedade