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Quem Tem Medo do Algoritmo?

Ilustração de um mostro dos pelos pretos com fios coloridos de computador entrelaçados nele. Quem Tem Medo do Algoritmo? Coluna Dário Castro. Revista Meu Piauí

“Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.

À primeira vez que ouvi essa frase, na minha adolescência, julguei-a inspiradora e libertária. Cheguei a repeti-la algumas vezes, reforçando a falsa informação de que se tratava de uma citação de Voltaire

Hoje, observando o estrago das fake news e do discurso de ódio em nosso país, sei que essa frase não contempla os perigos da pregação de uma liberdade de expressão irrestrita, que não observa os riscos da radicalização e do uso político e sujo das ferramentas de comunicação.

Somos agora um país dividido. A crescente defesa, às claras, de discursos nocivos e preconceituosos sob o pretexto da liberdade deu sua contribuição inequívoca para  o crescimento de grupos extremistas, como neonazistas. Sofremos ainda uma tentativa de golpe de estado e agora convivemos com a possibilidades de ataques e massacres em nossas escolas.

O Paradoxo da Tolerância de Karl Popper explica bem o perigo que enfrentamos. Ele afirma que, para uma sociedade ser verdadeiramente tolerante, ela deve ser intolerante com a intolerância. Em outras palavras, se permitirmos que ideias intolerantes sejam aceitas e espalhadas, eventualmente essas ideias podem levar à destruição da própria tolerância e liberdade que a sociedade valoriza. Portanto, a sociedade deve ser capaz de identificar e combater ideias e comportamentos intolerantes para preservar a tolerância e a liberdade. 

E onde essas ideias se proliferam hoje? Onde o discurso de ódio é mais facilmente disfarçado de liberdade de expressão? Onde está o ponto de encontro e a origem da radicalização? Nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem. E por quê? 

Não é só a capacidade de indexação, agrupamento e veiculação de informações que faz da internet, hoje, um campo minado perigoso, em especial, para nossas crianças e adolescentes. Um dos fatores principais para isso está em algo chamado “algoritmo”, que nada mais é que um código que rege sobre a distribuição e alcance das informações postadas nas redes sociais.

As gigantes da internet têm seus interesses e disputam a nossa atenção e o nosso tempo online. Com constante coleta de dados, elas desenvolveram algoritmos poderosos e eficientes, capazes de compreender o nosso comportamento online e nos instigar a permanecer conectados, fornecendo mais dados e recebendo mais conteúdo direcionado, entre eles, publicidade.

E onde entra o discurso de ódio nisso tudo? A resposta é simples. A radicalização de pessoas é lucrativa. As fake news são clicáveis e compartilháveis. O pânico chama a atenção e gera acesso. Combater a formação de bolhas radicalizadas, a geração e o consumo dessas informações é ruim para os negócios. O exemplo mais recente da leniência das Big Techs para com esse problema foi quando a advogada do Twitter disse a representantes do governo brasileiro que um perfil com foto de assassinos de crianças não violava os termos de uso da rede social e que não configurava apologia ao crime.

Não há dúvida de que a responsabilidade pela proteção das crianças e adolescentes na internet precisa ser compartilhada entre pais, educadores, governos e as Big Techs. Estas precisam garantir proteção contra o discurso de ódio, com políticas claras e mecanismos eficazes para denuncia e remoção de conteúdo ofensivo. Colaborar com as autoridades é o mínimo.

Para finalizar, deixo aqui uma frase realmente de Voltaire que ilustra bem o efeito da desinformação em nossa sociedade:

“Uma vez que sua fé, senhor, o convence a acreditar no que sua inteligência declara ser absurdo, cuidado para que você também não sacrifique sua razão na condução de sua vida.”  – Voltaire em Questões Sobre os Milagres.

Dário Castro

Escritor, Jornalista e Mestre em Estudos Culturais.
Contato: [email protected]

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