Eu nem queria. Na época, ocupava-me muito bem com o Jiraiya, o Mega Drive e uma caixa de Embaré. Meus primos, porém, fizeram a minha cabeça e, sendo o jeito, virei homem.
Convenceram-me que havia chegado a hora. Prometeram que me levariam ao tal recinto. Na hora H mostrei meus documentos para a moça. Eu, apesar de confiante, tremia. Olhei bem em volta. Ainda me lembro das janelas velhas. Concentrei-me no que fui fazer. Estalei os dedos e sorri como se tudo aquilo não fosse novo e assustador.
Ela deixou que eu prosseguisse. Tivesse naquele tempo internet eu saberia onde apertar, mas estava em outra era. Meus irmãos eram o meu Google e apesar do branco que deu na hora, segui o rumo das informações que me passaram.
Saí de lá como se tivesse tirado um peso de minhas costas. Logo identifiquei aquela sensação e sabia, naquele momento, que eu era, então, um homem de verdade.
O tempo passou e eu tive essa experiência mais algumas vezes. Por vezes me arrependi. Certo é que ganhei confiança e jeito para a coisa.
Eu olho para trás e rio da primeira vez em que ouvi, fingindo compostura, os repetidos gemidos mecânicos daquela coisa quadrada a cada vez que eu apertava cá e acolá. Garanto: ela não me convenceu que eu fiz um bom trabalho quando apenas sinalizou, após todo meu esforço, que havia chegado ao FIM.
Hoje, não pela desengonçada primeira vez em que votei, mas por todas as escolhas que sucederam esse dia, já escolado, posso abrir a boca e dizer que sou, sim, um cidadão.