De todos os poemas tocantes que já li, “O operário em construção” é o que mais instiga.
Nele, Vinicius de Moraes narra uma luta que se inicia no íntimo do personagem central e toma forma de luta social. Em certo momento da trajetória do personagem, o poeta, descreve:
“Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.”
Trecho de “O operário em construção” – Vinicius de Moraes – 1959
Ontem, depois de muito tempo, reli esse texto, e os versos acima ficaram martelando na minha cabeça.
Se sou eu, se somos todos nós, no final das contas, o próprio resultado daquilo que fazemos; se deixamos um pedaço de nós em tudo que produzimos, o que então resta para chamarmos de “eu”?
E se nossa identidade é delegada ao nosso trabalho, ao time para o qual torcemos, ao voto que damos, à fé que temos, qual o tamanho do vazio que cabe em cada um de nós, inominável e soturno, do qual fugimos desesperadamente?
Penso que esse horror ao nada e à insignificância é que no faz vestir várias camadas de sentidos e motivos. Uma vez bem cobertos de razão e “verdades”, e somente então, encontramos paz.
Essa paz, porém, entendo, é nada mais que fuga. É o atestado indelével de que não suportamos a nossa, tão reles, essência.
Pra mim, já ficou claro que, para que tenhamos tanto medo da falta de sentido, foi preciso antes que criássemos milhões de sentidos, que os déssemos contorno de verdade e nos acostumássemos a ponto de não nos enxergamos mais sem eles.
Não é ser insignificante que dói. Não é o vazio que nos angustia. O problema é que mentimos tanto para nós mesmos que a nossa despretenciosa verdade tornou-se intragável.
Faz sentido?