Nas diversas ocasiões em que nós, piauienses, tivemos nosso orgulho posto à prova, mostramos que somos fortes e vorazes.
Temos, todavia, revelado quão ferido é esse orgulho ao reagirmos visceralmente a qualquer provocação. E diga-se, fazemos isso sem a mínima compreensão da nossa reação, justamente por mal entender o que estamos de fato defendendo e por nos sentirmos, mesmo que secretamente, inferiores.
Ter orgulho de suas origens e zelar por sua identidade enquanto parte de um povo é uma coisa. Outra é o desequilíbrio que recorrentemente nós mostramos. O que é para ser um ato de amor confidente e contínuo, que sabe construir a si mesmo a cada dia com as defesas e as sinceridades que cabem a todo sentimento acolhedor e também honesto, tem se mostrado, quase sempre, como um ato de baixa autoestima onde, incertos de nós mesmos, reagimos mal à opinião alheia e jocosa e acabamos por nos defender atacando.
Esse ataque é, na maioria das vezes, cego. Um exemplo disso é quando um piauiense aparece na TV balbuciando que o estado “não deixa a desejar” ou “não fica atrás de nenhum outro” quando o quesito é esse ou aquele. Nas entrelinhas, esse discurso é sofrível e deixa bem claro que já se espera que o Piauí deixe a desejar e, quando não o faz, olha só, é uma novidade que merece ser dita.
Além disso, nós piauienses somos os primeiros a sentir desprezo por nossa produção cultural. A música, o teatro e o humor daqui só competem com a produção nacional quando são laureados lá fora. Fazemos essa distinção e todo mundo sabe. Mas ninguém diz.
O esporte local sabe o quanto sofre por causa do desinteresse geral do piauiense. Sabe os milhares que se ocupam em se revoltar nas redes sociais contra as míseras e infelizes ofensas contra o Piauí? Esses são os mesmos que vão se revoltar quando o Flamengo do Rio de Janeiro perder de novo.
Precisamos, nesse ponto, aprender com os pernambucanos, verdadeiros apaixonados pela sua identidade e que deixam isso não somente transparecer, mas transbordar, por exemplo, na singular festividade esportiva regional e na expressão cultural diversificada, madura e forte, que ganhou o mundo sem realmente dever nada a ninguém.
Fôssemos mais pernambucanos nesse aspecto; fôssemos mais seguros do relacionamento que temos com a nossa identidade e tivéssemos a capacidade de enxergar os problemas que são tão nossos, não perderíamos a compostura – e com ela a razão – e com ela a certeza de que estamos aptos a zelar pela nossa “piauiensidade”, pois a apequenamos em nossas revoltas.
Esse ufanismo ressentido não cai bem ao amor verdadeiro, pois pintamos assim uma ilusão a ser venerada, da qual se tenta a todo custo esconder as imperfeições causadas por nosso descuidos, nossos improvisos e nossa pressa.
É preciso trazer essa ilusão ao sol do meio dia, que não deixa sombras de dúvidas arrastarem-se pelo chão firme, para que o quadro que pintamos rache e desbote na inclemência do astro rei a ponto de enxergarmos claramente que há um rascunho na lona.
Sabendo disso, resta-nos saber amar a nossa identidade, crescermos junto com ela, comedidos, confiantes e sabendo bem das dificuldades que enfrentaremos, dentre elas a de fazer as pazes conosco.
Só assim teremos o zelo necessário e despertaremos o orgulho espontâneo, capaz de unir cada piauiense nas suas alegrias, vivências e responsabilidades, não mais somente quando somos provocados por insultos.