“Nosso olhar sobre o bunda é insidioso. Não é de admiração. Não respeitamos a bunda, sua liberdade e os contornos de sua essência. Queremos domá-la, vendê-la, lucrar em cima dela.”
Disseram que ela é paixão nacional e a lançaram mundo afora como símbolo do espírito festivo do Brasil.
Na internet e na TV, nas revistas e no imaginário, é festejada e admirada.
Não dá para negar, porém, que, em meio à euforia, a região glútea habita um mundo que olha para ela com olhos estranhos de desejo, controle e objetificação.
Essa atenção assediosa desvirtuou a forma com que a podemos enxergar e lidar com ela. O resultado disso é que a bunda transformou-se numa espécie de patrimônio cultural do machismo brasileiro.
Enquanto óbvia parte do corpo da mulher, foi subjetivamente arrancada delas pelas garras do machismo, sexualizada e posta às prateleiras como produto, até que perdesse qualquer significado que não fosse sensual, fútil ou grosseiro.
Nosso olhar sobre o bunda é insidioso. Não é de admiração. Não respeitamos a bunda, sua liberdade e os contornos de sua essência. Queremos domá-la, vendê-la, lucrar em cima dela.
Somente um novo olhar, que não mede e que ama desmedidamente; que respeita seu espaço, admira sua essência; acolhe, protege e incentiva; venera a sua liberdade e a defende de todo julgamento e tratamento ruim, poderá desmercantilizar a bunda.