Um Olhar Sobre a Bunda

Ilustração de uma prateleira no supermercado com bundas de bikini expostas à venda. O título"UM OLHAR SOBRE A BUNDA" aparece abaixo.

“Nosso olhar sobre o bunda é insidioso. Não é de admiração. Não respeitamos a bunda, sua liberdade e os contornos de sua essência. Queremos domá-la, vendê-la, lucrar em cima dela.” 

Disseram que ela é paixão nacional e a lançaram mundo afora como símbolo do espírito festivo do Brasil.

Na internet e na TV, nas revistas e no imaginário, é festejada e admirada. 

Não dá para negar, porém, que, em meio à euforia, a região glútea habita um mundo que olha para ela com olhos estranhos de desejo, controle e objetificação.

Essa atenção assediosa desvirtuou a forma com que a podemos enxergar e lidar com ela. O resultado disso é que a bunda transformou-se numa espécie de patrimônio cultural do machismo brasileiro.

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Enquanto óbvia parte do corpo da mulher, foi subjetivamente arrancada delas pelas garras do machismo, sexualizada e posta às prateleiras como produto, até que perdesse qualquer significado que não fosse sensual, fútil ou grosseiro.

Nosso olhar sobre o bunda é insidioso. Não é de admiração. Não respeitamos a bunda, sua liberdade e os contornos de sua essência. Queremos domá-la, vendê-la, lucrar em cima dela. 

Somente um novo olhar, que não mede e que ama desmedidamente; que respeita seu espaço, admira sua essência; acolhe, protege e incentiva; venera a sua liberdade e a defende de todo julgamento e tratamento ruim, poderá desmercantilizar a bunda.

Dário Castro

Escritor, Jornalista e Mestre em Estudos Culturais.
Contato: [email protected]

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