Os Porquês

-Bom dia, Reginaldo. 

-Bom dia. 

-Tudo bem, Reginaldo?

-Tudo. 

-E por que essa cara?

-Como assim?

-Parece triste. 

-Mas não estou. 

-Certeza?

-Certeza. 

-Ei. Não foi por quê?

-Pra festa da empresa?

-Ontem. Sim. 

-Não curto. 

-Festa?

-Festa de empresa. 

-Ah sim. 

-Pois é. 

-O que é isso?

-Um kiwi. 

-Dentro de uma gaiola?

-É. 

-Qual o porquê disso?

-Como assim?

-Ele não vai fugir…

-Oi?

-Não precisa de gaiola. 

-Ah. Mas…

-Entendeu?

-Sim. Mas…

-Estanho. 

-O kiwi na gaiola?

-Sim. 

-É arte. 

-Arte? 

-Humrum. 

-Um kiwi na gaiola?

-É… 

-E qual o significado?

-Ah. Varia. 

-Por quê?

-Porque eu vejo uma coisa… 

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-E eu vejo outra?

-Isso. 

-Mas é uma gaiola…

-É.

-Com um kiwi dentro. 

-Bem…

-Eu vejo o que é. 

-Será?

-Claro. 

-Então tá. 

-Se eu mostrar essa coisa…

-Essa arte.

-Pra qualquer pessoa…

-Hum. 

-Vão dizer o mesmo que eu. 

-Isso não muda nada. 

-Muda sim. 

-Continuarei vendo arte

-Mas aí já é teimosia. 

-Enxergar diferente é…

-Teimosia. Sim. 

-E enxergar igual?

-Ah. É normal. 

-Pra mim… é loucura. 

Dário Castro

Escritor, Jornalista e Mestre em Estudos Culturais.
Contato: [email protected]

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