“Não tenho outra maneira de dizer isso, então vai assim, na lata. A pandemia me ensinou a ter o pé atrás com médicos.”
Não tenho outra maneira de dizer isso, então vai assim, na lata. A pandemia me ensinou a ter o pé atrás com médicos.
Eu, que tinha uma automática reverência por esses profissionais, hoje os vejo, a maioria, em nuances de elitismo e de perigosa ideologia política.
Quando penso na classe médica e lembro que planos de saúde distribuíram o “Kit Covid”; que o Conselho Federal de Medicina endossou o “tratamento precoce”, mesmo depois de invalidado cientificamente; que médicos, aos milhares, demonizaram o programa Mais Médicos e continuaram apoiando Bolsonaro, mesmo após a sua intencional negligência em relação à covid, eu sinto, parafraseando o poeta Augusto dos Anjos, uma “ânsia análoga à ânsia que escapa da boca de um cardíaco”.
Trago até hoje uma imagem na mente. É uma foto de médicas brancas vaiando, com semblante de raiva, um médico cubano negro que passava cabisbaixo e acoado. Não vou colocar essa foto aqui porque ela me entristece. E não quero fazer isso com você.
Essa foto cristalizou em mim a certeza de que também o racismo é companheiro dileto de boa parte dos médicos brasileiros. Posso estar errado. Posso ter feito uma leitura apressada, generalizada…mas, à maneira dos aloprados, o que me falta de provas, sobra de convicção (ler isso com o devido tom sarcástico, por favor).
Feitas essas considerações, quero falar do principal problema que o Mais Médicos visa remediar: a falta de nossos nobres doutores e doutoras nos rincões do Brasil.
Além da dificuldade de alocar médicos nos locais mais remotos, o número de desistências também é alto. Para ilustrar, em 2019, três meses após a saída dos cubanos, mais de mil médicos brasileiros já haviam abandonado o programa. Isso correspondia, então, a 15% do total de inscritos.
Se alguém souber explicar, agradeço, mas não consigo entender o motivo por que os médicos brasileiros não querem ir para os locais mais remotos nem querem que ninguém vá.
Agora, em 2023, com o anúncio da retomada do programa, a promessa do presidente é priorizar médicos brasileiros e, havendo a necessidade, redirecionar para médicos estrangeiros que já atuam no país.
Resta alguma dúvida de que vamos precisar de reforço?