“Apesar dos enormes desafios, estou entre os que enxergam no combate ao racismo a primeira e mais importante ação por uma sociedade realmente justa.”
Embora você já tenha escutado uma pessoa branca dizer que no Brasil não existe racismo, ele está entre nós, ou melhor, está em nós. E não só.
Ele está nas interações entre indivíduos e grupos, está lá, nas engrenagens da máquina pública, nas estruturas de governo e na maneira como orgãos de Estado e instituições se organizam.
O Racismo é uma ideologia estrutural, ampla e complexa que se alastra em tudo, na cultura, na política, na justiça… entre outros. E por quê? À toa? Não.
Por trás do racismo há uma função social perversa. Ele opera como motor da desigualdade em todos os níveis imagináveis. Ele faz mover os processos, as diretrizes, as noções de verdade e as esperanças no sentido da diferença e da injustiça, mantendo os privilégios onde sempre estiveram.
O racismo é um sistema, uma teia que alcança uma infinidade de estruturas, práticas e normas, que influencia o funcionamento dos ambientes social, político e econômico.
Materializado nas práticas e políticas institucionais que prejudicam grupos raciais específicos, o racismo institucional é um problema real e grave que precisa ser enfrentado de forma contundente pela sociedade como um todo.
Uma das principais dificuldades relacionadas à luta contra o racismo institucional é exatamente a negação da sua existência por parte de muitas pessoas e de toda e qualquer instituição.
Enquanto isso, a exclusão de minorias raciais é evidente no acesso à educação, à saúde, à moradia e ao emprego. Ademais, a baixa representatividade de minorias raciais em cargos políticos e de liderança é efeito e fator de perpetuação da discriminação e da desigualdade.
Se existem soluções para combater o racismo institucional, existe também uma imensa dificuldade de colocá-las em funcionamento.
Não é fácil, num país racista, trazer luz às práticas e políticas injustas institucionalizadas e, uma vez identificadas, corrigi-las.
Não é fácil, no Brasil de hoje, no qual os privilegiados não têm vergonha de se enxergar como vítimas, deixar clara a importância de políticas públicas que favorecem a inclusão e o empoderamento de minorias raciais em diversos setores da sociedade.
As campanhas de conscientização sobre o racismo podem lá ter algum efeito, sensibilizar as pessoas passíveis de empatia, mas essa gravidade passa longe de ser assimilada por aqueles que não só não se importam, mas querem o país injusto que têm.
Vencer o racismo institucional parece impossível, soa como um sonho irrealizável. Já a realidade, desigual, insiste em se fazer, a cada dia, mais sólida e sentida.
Apesar dos enormes desafios, estou entre os que enxergam no combate ao racismo a primeira e mais importante ação por uma sociedade realmente justa.
Acredito que a postura pessoal de identificar o racismo estrutural dentro de você mesmo, de querer ser, cada dia, melhor que ontem, é um passo importante para essa transformação geral.
E só assim, vamos fazer o impossível.