“Sem uma união de esforços para erradicar a cultura machista e a violência contra as mulheres, estaremos ensejando a culpa dos que puxam o gatilho.”
Eu sou machista, mas todo dia sou menos que no dia anterior.
Fui a vida inteira ensinado a ser tóxico e a executar uma masculinidade hiperbólica e impossível. E isso nem sempre foi claro para mim.
Não é da noite para o dia, portanto, que posso aparecer na internet e me julgar um ex-machista. A bem da verdade, nunca vai chegar esse momento.
Julgo que estou condenado a perpetuar o machismo por toda a minha vida, mesmo que inadverditamente, mesmo que vigilante, mesmo que procurando toda e qualquer reminiscência dele em mim.
Eu sou machista. O machismo é uma ideologia que estabelece o homem e sua subjetividade acima da mulher e sua subjetividade. Ele toma forma em práticas e comportamentos que afirmam essa pretensa superioridade.
Em casa, no trabalho, na rua, todos os dias ele se manifesta, fazendo do mundo em que vivemos… o mundo em que vivemos.
Das várias maneiras com as quais o machismo atinge as mulheres, o feminicídio, o estupro, a agressão física ou psicológica estão aí para mostrar o quão urgente é a luta contra a insensatez machista.
Infelizmente, o Brasil é um dos países com maior número de casos de feminicídio no mundo. São 10 mulheres assassinadas por dia.
Não bastasse todo esse terror, o machismo ainda torna de praxe uma espécie singular de agressão, que é atribuir a culpa à própria vítima, seja por uma saia curta ou uma embriaguez “desnecessária”, entre outros.
Combater o machismo é combater o feminicídio. Combater o machismo não é tarefa das feministas. É tarefa nossa, dos homens, especialmente.
Precisamos olhar para dentro, investigar as raízes profundas do machismo e buscar soluções que passem pela educação para a igualdade de gênero desde a infância, com campanhas e programas que promovam o respeito às diferenças e o combate à violência de gênero.
Já ficou claro que a Lei Maria da Penha, embora didática, não é o suficiente diante da produção em massa de homens potencialmente violentos em nossa sociedade e da clara condição subalterna que o machismo quer colocar as mulheres, que muitas vezes não têm sequer condições de denunciar o parceiro agressor, dada a completa dependência.
É necessário que nos mobilizemos para combater esse mal em suas mais tangíveis formas e criar um ambiente em que as mulheres possam se sentir seguras.
Sem uma união de esforços para erradicar a cultura machista e a violência contra as mulheres, estaremos ensejando a culpa dos que puxam o gatilho.
Precisamos escolher entre nos vermos como responsáveis pelo sofrimento delas, e fazer algo para mudar isso, ou olhar para o outro lado, pensar que isso não é conosco e sermos, assim, coniventes com o cruel resultado.
A escolha me parece óbvia.
Essa “raiz podre que é o machismo” infelizmente se agarra a qualquer gênero da sociedade. Lamentável, mas vamos sim curar de tudo que tóxico!
A meta é acordar menos tóxico, menos machista…
Racismo e machismo têm sua base motivadora na cultura de competição desse mundo estratificado e de poder concentrado. O poder ainda é dos homens e dos brancos. Uma vez no poder, eles têm mais meios de perpetuar-se no poder. Acho que as ações afirmativas possibilitarão cada vez mais a tomada de consciência de mulheres, negros e pardos e, uma vez que estejam mais conscientes, tomarão para si, com garra e vontade, a luta pela conquista de sua parte de poder.