Eu lia com capricho as revistas de mulherzinha da minha prima. Vasculhava, curioso e bem escondido, como se olhasse por baixo de saias, o universo feminino. Como são? Do que gostam as mulheres?
Descobri os testes de personalidade, o enfoque inesperadamente sexual e um turbilhão de coisas que serviam para qualquer coisa que eu não desconfiava. A minha curiosidade só ia aumentando.
Lembro-me do primário espanto, das sensações estranhas e docemente memoráveis de um pequeno homem ao lançar os olhos e as mãos à frente para investigar um enigma chamado mulher.
Descobri também, naquela época, que elas pensavam naquilo, digo, naquilo tudo que os meninos pensavam, mas as tantas escolhas, as dicas, as etiquetas e regras, os indícios, os pontos X e G de tantas questões me levavam a pensar a cada página virada: “que universo obtuso e distante é a galáxia feminina”.
Hoje, vejo com a mesma curiosidade, mas com a cautela de quem já se machucou nos espinhos de flores, que as mulheres não são complicadas em si, porém complicadas por nós. E vejo mais. Quando lançamos o olhar curioso e contemplativo, tentamos disfarçar que esse olhar é também analítico e inquisidor.
E qual a razão de complicarmos as mulheres? É uma só. Queremos os olhos nelas, não em nós, pois não agüentamos a pressão da admiração que disseca, molda, testa, instiga, subjuga, enaltece e confunde. É isso que os machos fazem.
A condição masculina é frágil e inevitavelmente temerosa de qualquer provocação.